5.9.06

passeios pelo passado


Castanheira – não é a terra que me viu nascer, mas posso dizer que foi a terra que me viu crescer. Onde passei a minha infância e adolescência, onde brinquei, ri, chorei e cresci como pessoa. Como pessoa porque no decurso da nossa vida há momentos que nos marcam, de tal forma que, esses momentos, são mais tarde recordados. Seja de forma positiva, quando algo aconteceu que nos causou uma tremenda alegria, seja exactamente pelo sentimento oposto, deixando uma marca de profunda desilusão. Seja pelo mau ou pelo bom, muitas vezes dou por mim a passear pelo passado e a sorrir a momentos e experiências que com toda a certeza não se irão repetir.
Desses tempos e até aos dias de hoje guardo uma grande ternura por quem passou pela minha vida. Alguns mantém-se amigos, outros nem por isso, mas a vida é exactamente feita destas coisas: aquilo que é uma verdade inegável hoje, provavelmente não o será amanhã. Tal qual as amizades.
Lamento sim que algumas pessoas tenham mudado de tal forma que já nem sequer se permita que exista hoje em dia uma relação. No entanto, os bons e os verdadeiros mantém-se, de pedra e cal, mesmo que a distância separe as nossas vidas por algum tempo.

Mas sobre a Castanheira… e sobre o que recordo dela. São inúmeras as recordações que, de repente, há memória vieram variadíssimas imagens de momentos completamente distintos. Foi, durante os tempos de estudo na Guarda, o meu destino de fim-de-semana.
Algumas recordações desse tempo:

A loucura do futebol, da ACDC – domingo sim, domingo não! A berrar que nem uma louca pela equipa, especialmente pelo Sacadura! Bons momentos esses, recordam-se meninas?

A igreja – a mordomia de nossa senhora da Conceição. Pouco fazíamos porque éramos demasiado novas, portanto as mães ou representantes eram chamadas a desempenhar as respectivas funções, enquanto nos ajudávamos (ou atrapalhávamos!) e dávamos a cara!

As festas – a festa do Corpo de Deus era o acontecimento social e religioso do ano (era suposto ser mais religioso do que pagão! Mas nem sempre o era, ou melhor nunca o era!). De ano para ano a ansiedade era muita porque a concorrência também o era e também porque era necessário provar que “os de este ano eram melhores que os do ano anterior”!

E as festas no verão – a essas só tive oportunidade de assistir mais tarde, já na adolescência. E dessas festas recordo o melhor verão da minha vida – 1998! Muitos conhecimentos, muitos “deutsches” e “francious”, muita diversão. Tanto se passou, tanto se falou, mas tanto ficou por acontecer.
Recordo numa noite estar com alguns amigos na rua, porque nessa altura as noites de verão eram realmente de verão (tal como a noite de hoje!!) e o sino começar a tocar a repique. Era o aviso que o fogo andava ali por perto e era precisa ajuda. Claro que naquela altura, e para a nossa idade, não passávamos de uns mirones pois pouco podíamos fazer, mas lá fomos nos ver o que se passava. E era um mundo de chamas que se deparava na nossa frente, que consumia tudo o que aparecia a frente. Não me recordo das proporções que aquele incêndio tomou, mas recordo que a população estava em peso ali para evitar que chegasse à aldeia.

E o Sumol – de onde veio esse nome, o como surgiu... Seria um nome que apenas algumas pessoas soubessem a quem se referia, no entanto alastrou-se! Mais um dos verões para recordar. Uma noite de S. João a percorrer as fogueiras de forma tão inocente. Certamente que hoje seria bem diferente!!

3.9.06

Da minha aldeia

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
E escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
(VII - Da Minha Aldeia - Alberto Caeiro)